Estrelat encerra produção de leite tipo A em saquinhos
Últimas unidades são vendidas no comércio da região.

Depois de quase três décadas, chega ao fim em Estrela a produção de leite tipo A em saquinhos. A mudança não foi motivada por decisão de mercado, mas pela legislação federal, que já previa a obrigatoriedade de homogeneizadores no processo e agora alcançou o prazo final para adaptação. O equipamento, avaliado em cerca de R$ 250 mil, é considerado inviável para pequenas agroindústrias familiares.
Produção e empregos em risco
Na prática, o homogeneizador atua apenas na quebra da gordura do leite, impedindo a formação da nata. Para produtores como Roberto de Oliveira e Eliana Beatriz Lenhard de Oliveira, fundadores da Estrelat, cada novo processo industrial distancia o produto de sua característica natural. “Nosso foco sempre foi o leite mais puro possível. A cada etapa a mais, sentimos que a qualidade se deteriora em vez de melhorar”, conta Roberto.
Com a decisão, a Estrelat deixa de comercializar mensalmente entre 8 e 9 mil litros de leite em saquinhos, dos quais cerca de dois mil eram destinados a escolas municipais e entidades assistenciais de Estrela. O fornecimento atendia diretamente a merenda escolar, reforçando a importância do produto na alimentação das crianças.
A previsão é de queda de até 50% no faturamento e de perda de mão de obra, já que os entregadores e colaboradores envolvidos diretamente na produção e distribuição ficaram sem função. “São anos de dedicação. Dói encerrar uma produção que acompanhou gerações de famílias. Muitas mães que conheço criaram os filhos com esse leite”, relata Eliana, que começou no setor aos 16 anos e hoje soma 29 anos de experiência.
Consequências ao consumidor
O impacto atinge também o consumidor. Para quem se acostumou com o saquinho, a alternativa será buscar outros formatos de embalagem. O preço médio de R$ 4,40 a R$ 5 o litro tende a não se manter, já que os custos de adaptação pesam no cálculo final. Além disso, parte do volume que era distribuído diretamente em Estrela e Lajeado pode deixar de circular no mercado local.
Na avaliação de Oliveira, a legislação não considera as particularidades das pequenas agroindústrias. “Colocar todos na mesma regra é injusto. Se for aplicada de forma rígida, só os grandes grupos vão resistir, e quem perde é o consumidor”, afirma.
Fundada em 1997, a Estrelat iniciou com o leite “litrão”, depois passou ao tipo B em 2007 e, em 2019, foi certificada para o leite tipo A. Ao longo dos anos, chegou a empregar entregadores e movimentar dezenas de famílias de forma direta e indireta. Hoje, permanece como única agroindústria familiar a produzir leite tipo A em Estrela, mas com futuro incerto diante das exigências regulatórias.