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Governo do RS anuncia linha de crédito de R$ 100 milhões para empresas gaúchas impactadas pelo tarifaço

Programa será destinado aos setores produtivos mais impactados com a tarifa de 50% anunciada pelos EUA, e terá juros subsidiados

Governo do RS anuncia linha de crédito de R$ 100 milhões para empresas gaúchas impactadas pelo tarifaço
Foto: Camila Cunha

Com foco em reduzir os impactos que as empresas gaúchas já enfrentam com a sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros por parte dos Estados Unidos, prevista para valer a partir do dia 1º de agosto, o Governo do Rio Grande do Sul anunciou um programa de financiamento de crédito de R$ 100 milhões destinados aos setores exportadores do Estado que poderão ser mais impactados com a medida. O anúncio foi feito no Palácio Piratini nesta sexta-feira, dia 25, após uma reunião a portas fechadas entre o governador Eduardo Leite e representantes de entidades do setor produtivo gaúcho. O valor será financiado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) terá R$ 100 milhões para socorrer exportadores de diferentes setores.

Os juros serão equalizados com recursos do Fundo Impulsiona Sul, instituído pelo próprio banco. Com isso, a linha de crédito para capital de giro aos exportadores terá um custo final entre 8% e 9% ao ano. A liberação de empréstimos começa a partir do dia 4 de agosto, e os financiamentos podem ser pagos em até 60 meses, ou seja, cinco anos. Podem acessar ao financiamento empresas de qualquer porte que tenham realizado exportações para o mercado norte-americano ao longo do ano passado ou no primeiro semestre de 2025.

O programa considerou que o Rio Grande do Sul está entre os estados mais afetados pela medida protecionista anunciada pelo presidente Donald Trump e, conforme estudo divulgado pela Federação das Indústrias do RS (Fiergs), com risco de uma perda de R$ 1,92 bilhão no seu Produto Interno Bruto (PIB). O governador Eduardo Leite salientou que o financiamento busca manter a competitividade das empresas neste momento de indefinição na relação multilateral do Brasil com os Estados Unidos.

Com o subsídio do Fundo Impulsiona Sul, os custos do financiamento foram fixados em IPCA mais 4% ao ano, com cinco anos de prazo para pagamento, incluindo uma carência de até 12 meses.

O anúncio do financiamento contou com presença de autoridades como Rafael Goelzer, vice-presidente da Federasul; Domingos Velho Lopes, vice-presidente da Farsul; Claudio Bier, presidente da Fiergs; Ranolfo Vieira Junior, presidente do BRDE; Rafael Prikladnicki, presidente da Invest RS e Leandro Evaldt, secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado.

"É uma primeira ação. Nós vamos acompanhar o que o verbo de demanda para eventuais novos aportes que gerem possibilidade às empresas de manterem as suas operações com menor redução, o menor impacto possível em termos de empregos e movimentação econômica para preservar essas atividades no nosso estado", afirma o Governador.

Ele complementa que é um crédito mais barato e competitivo para permitir que as empresas tenham a capacidade de “suportar” a oscilação que terão pela imposição das tarifas. “Continuamos todos trabalhando dentro da nossa alçada, do que é a nossa esfera de competência e com muita expectativa de que haja negociação no nível nacional para revisão dessas tarifas, para que se estabeleça, no mínimo, primeiro uma prorrogação, ou a revisão imediata dessas tarifas que são anunciadas pelos Estados Unidos", afirma.

Presidente da Fiergs, Claudio Bier reconhece que as medidas foram agilizadas com uma rapidez “nunca vista”, e lembra que, depois de São Paulo, o RS é o segundo estado que mais perde no Brasil para as exportações aos EUA. "A Fiergs, desde sempre, em todos os momentos estava tentando o diálogo e tivemos em todas as instâncias e com parcimônia nós vamos pelo menos conseguir ajudar a resolver essa conta", diz.

"Nenhum outro programa de crédito a gente consegue chegar nesse patamar. Nós estamos há uma semana da entrada em vigor dessa nova taxação, mas as incertezas estão muito presentes. Nós não sabemos se efetivamente isso vai se concretizar. Não sabemos se alguns setores serão ou não excluídos dessa taxação da forma como já fora anunciada. Esse é o pontapé inicial, pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul e o BRDE vai trabalhar dentro das possíveis ou eventuais modificações que vem a nossa taxação para adaptação desse programa", diz Ranolfo Júnior, presidente do BRDE.

Leite também tratou do tensionamento político entre o Brasil e EUA e os últimos desdobramentos das medidas restritivas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. "O Brasil e os Estados Unidos têm uma relação diplomática desde a origem, desde a independência do Brasil que precisa ser preservada. Se há um impasse político agora, precisamos apelar para que se traga para aquilo da seara das relações diplomáticas, não pela interferência de outro país na nossa soberania, nas nossas decisões internas. As nossas instituições são nossas com as suas virtudes e com seus defeitos, nós é que devemos corrigi-las e não qualquer tipo de interferência externa", afirma o governador.

Entre os setores que dependerão mais do sistema, Leite lembra que foram identificadas em conversas com as entidades do setor produtivo quais serão mais atingidos. Segundo o governador, a produção de proteína animal é um dos setor que preocupa. Ele reconhece, porém, que ainda há um cenário muito incerto sobre a forma de aplicação dos 50% das tarifas.

"Há aquela carta do presidente americano que anuncia as tarifas, mas a ordem executiva que efetivamente já implementa, nas condições, se haverá exceções, quais serão, ainda não foi expedido. Isso gera uma expectativa sobre como vai ser implementado. Uma das expectativas, por exemplo, que produtos que não tenham capacidade de substituição por outro mercado, outro país produtor, possam estar de fora", afirma.

É o caso do setor de armamentos com mais de 80% de exportação, também do café, da carne, e do setor de couro calçadista. "Nós estamos acompanhando todos esses casos que são aqui as que podem receber a atenção dessa linha de financiamento", reforça.

• Como vai funcionar o programa

Total disponível: R$ 100 milhões

Forma: capital de giro

Prazos: 60 meses, com até 12 meses de carência inclusa

Custo: IPCA + 4% a.a. (total entre 8% e 9% ao ano)

Vigência: até dezembro de 2025


Fonte: Correio do Povo