A vida de ex-jogadores do Grêmio que escolhem Porto Alegre para viver após a aposentadoria
Nos últimos anos vários atletas encerram a carreira na Arena e seguiram morando por aqui, casos de Marcelo Oliveira, Lucas Leiva, Edilson e Geromel

Além de curta, a carreira do jogador de futebol é imprevisível. Sob vários aspectos está sujeita a oportunidades, fatalidades, sorte, escolhas (não somente as suas) e tantas outras questões. Geralmente o início tem histórias ligadas às dificuldades sociais na infância e à luta para passar no cruel funil até o profissionalismo.
O fim, por outro lado, reserva um leque bem maior de circunstâncias. Nos últimos anos, o Grêmio foi o palco de várias aposentadorias. E curiosamente, jogadores egressos de outros lugares escolheram Porto Alegre para seguir a vida, o que sugere uma identificação além das criadas com o clube.
"Quando eu vim não pensava que estaria até hoje aqui. São 11 anos de Porto Alegre. Mas eu estava com a cabeça que voltaria a São Paulo, onde tinha residência. Só que os anos foram passando e no quinto ano de Grêmio, perguntei à Juliana, minha esposa: 'Se eu parasse hoje, tu ficarias morando aqui?' Ela respondeu 'sim' e eu disse 'eu também', relembra Marcelo Oliveira, lateral-esquerdo pentacampeão da Copa do Brasil e peça essencial do vestiário vencedor na Era Renato entre 2016-2020.
Somente na última temporada três atletas penduraram as chuteiras na Arena. O lateral-direito Fábio, com apenas 34 anos e vítima de uma série de lesões pelo caminho, assim como o zagueiro Rodrigo Caio, ainda mais novo, aos 31, virou auxiliar técnico de Filipe Luís no Flamengo. E, claro, Geromel, zagueiro, capitão e ídolo da torcida que aguentou até quase os 40 anos a rotina de atleta. Agora, trocou pela de pai que cria a família na Capital, fruto do que construiu no clube.
"O Grêmio me possibilitou ganhar títulos, vestir a camisa da Seleção Brasileira, ser reconhecido. Meus filhos são gaúchos, que me cobram muito, que torcem muito. O Grêmio faz parte da minha vida e sou grato por ter essa oportunidade", disse Geromel, quando do anúncio da aposentadoria.
Nem todos tiveram a felicidade de escolher a hora de parar. O caso mais recente foi de Lucas Leiva. Cria da base e de trajetória exemplar na Europa, voltou para comandar o time na Série B do Brasileirão em 2022, mas a descoberta de um problema cardíaco antecipou bruscamente o final da história que estava escrevendo.
''É a primeira vez que eu choro nesse caso. Gratidão por todo esse tempo de carreira. Estou encerrando onde eu gostaria, mas não da forma que eu gostaria'', admitiu em meio ao choro na época.
Há exemplos também de passagens menos lembradas, como a do zagueiro Bruno Rodrigo. Campeão da América em 2017, depois do Mundial com o Real Madrid, nunca mais calçou uma chuteira. E por fim, há ainda quem, aparentemente não decidiu se o fim chegou ou não. Diego Costa desde o final do contrato com o Grêmio em dezembro não se acertou com outro time para jogar. E lá se vão quase sete meses.
Tempo bem menor da última vez que Marcelo Oliveira, então coordenador técnico, colocou um ponto final na vida de vestiário. No entanto, não na relação com Porto Alegre, cidade que ele, um baiano, Edilson, um paranaense, Geromel um paulista e Lucas Leiva um sul-mato-grossense adotaram.
"Já são três anos que saí do clube e continuo eu vivendo aqui. Então a decisão lá atrás minha e da Ju foi completamente certa. Não era só por ficar no clube que permaneci, mas mesmo em outra função agora, o desejo que continuar aqui com os filhos crescendo e estudando, mesmo sem ser planejado, entendemos o porquê. Porque aqui é o nosso lugar", diz o hoje empresário, Marcelo.
Fonte: Correio do Povo